A INFLAÇÃO E SEUS AMIGOS
Texto de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos fundadores do Plano Real sobre inflação.Publicado no Estado de São Paulo - http://bit.ly/1jTLDdB
As primeiras teorias sobre a inflação eram como a cartografia primitiva: roteiros
para a imaginação muito mais que representações científicas e confiáveis da
verdadeira geografia. A inflação surgiu mais ou menos na mesma época e lugar
que o "papel-moeda", sendo muito natural e espontâneo que se associasse uma
coisa à outra. Afinal, a inflação é a perda de poder aquisitivo da moeda, simples
assim.
No Brasil, entretanto, logo emergiu um visão alternativa e imaginosa que tomava
emprestada à engenharia uma palavra que mudaria para sempre nossa maneira
de olhar as mazelas da economia: dizia-se que a inflação brasileira era "estrutural".
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Poucos se dão conta da importância e da contundência desse drible dado pelos
"estruturalistas": nunca se fazia uma defesa aberta da inflação, mas um ataque às
políticas monetárias ortodoxas e à austeridade. Em retrospecto, deveria ser claro
que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" e os "estruturalistas" estavam
trabalhando a favor da inflação, às vezes admitindo "expropriar os rentistas" ou
"tributar a riqueza ociosa", um argumento que frequentemente se associava a lord
Keynes.
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A própria presidente disse recentemente que reduzir a meta de inflação de 4,5% (na
verdade 6,5%) para 3% faria o desemprego pular para 8% ou mais.
De onde saiu essa matemática?
Se fosse verdade, a redução na taxa de inflação de 916% para 5%, observada entre
1994 e 1997 (taxas acumuladas para o ano calendário), teria criado um caos. Em
vez disso, o desemprego oscilou de 5,1% para 5,7%. Para quem não é do ramo parece mágica, não é mesmo?
O fato é que as autoridades governamentais prosseguem com o velho truque de
antagonizar o combate à inflação e não a inflação, assim se esquivando de fazer
uma defesa aberta dessa sua criatura amiga, órfã apenas na aparência, que parece
nascer de causas naturais sem que ninguém lhe dê o que comer.
Quem são os amigos da inflação?
Basta olhar para os inimigos do combate à inflação.
EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA RIO BRAVO
INVESTIMENTOS
via Estadão
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