sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Afogando a Petrobrás


Na Petrobras, mais é menos

Folha, 30/01/2013.



A novela do aumento da gasolina, decretado nesta semana pelo governo, expôs com clareza como a política econômica brasileira hoje é capaz de subverter as leis mais básicas da economia e da gestão.
A explosão do consumo de combustíveis no Brasil rendeu enormes prejuízos à estatal que domina o mercado nacional de combustíveis. É isso mesmo, quanto mais a Petrobras vende gasolina, maior o seu prejuízo.
A explicação é simples. Como falta ao Brasil capacidade de refino, temos que importar gasolina. Como os preços do combustível são subsidiados pelo governo, a Petrobras tem de vender a gasolina que importa com prejuízo.
Mesmo com o reajuste desta semana, analistas calculam que a perda da Petrobras ainda é de 7% a 12% no preço da gasolina e de 12% a 15% no diesel. A perda da Petrobras com o subsídio era estimada em cerca de R$ 2 bilhões ao mês. Agora, após os reajustes, passaria a R$ 1,2 bilhão por mês. Como diria Paulo Francis, velho inimigo da nossa maior empresa: waal!
A política de combustível subsidiado não só afundou o resultado da Petrobras como destruiu a antes promissora indústria de biocombustíveis, incapaz de competir com a gasolina barata subsidiada. Ou seja, o governo gastou dinheiro para incentivar o etanol e depois gastou dinheiro para destruir o etanol. E mais: as perdas recorrentes comprometeram o plano de investimentos da petrolífera bem no momento em que ela (e o país) precisam dar início à custosa e arriscada exploração do pré-sal. Ou seja: o governo deu de presente à estatal o monopólio de operar as reservas do pré-sal, mas ao mesmo tempo minou sua capacidade de fazê-lo.
É uma proeza do chamado desenvolvimentismo, levar a Petrobras, uma das maiores petroleiras do mundo, a perder dinheiro na era em que o petróleo sustentou seu maior patamar, no momento em que seu mercado interno e cativo explodiu e depois de ganhar reservas potencialmente incríveis para explorar.
O mercado olhando o óbvio puniu severamente a ação da empresa, que serve de reserva não só para o governo, mas também para milhões de trabalhadores brasileiros.
E tudo isso para quê? Não está muito claro, mas parece que para segurar a inflação sem precisar mexer nos juros para cima, já que outro grande feito do desenvolvimentismo foi criar a taxa de juros que só cai.
Se o governo fez isso com a maior empresa do Brasil numa conjuntura em que ela deveria estar lucrando e investindo como nunca, imagine o que pode fazer com a economia do país.

Sérgio Malbergier é jornalista.

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